Os casos evangélicos que não se chamam “IURD”

A IURD (Igreja Universal do Reino de Deus) apareceu em Portugal pelo ano de 1989 e conta hoje com mais de 100 templos espalhados pelo território nacional. Muitos se lembram da famosa tentativa de compra do Coliseu do Porto e tantos outros casos de confronto e polémica. O crescimento da IURD foi brutal a todos os níveis a partir do Brasil, com uma estratégia de compra de televisões e demais meios media passando pela compra de horas de emissão noutras televisões e rádios, construção de templos, merchandising e produtos de todo o tipo imaginável como cartões de crédito para evangélicos!
No entanto, essa ascendência “divina” teve um revés, aparentemente, já que em Setembro de 2011 o Bispo Edir Macedo e outros três  mentores da IURD foram acusados pelo Ministério Público de São Paulo por formação de quadrilha, lavagem de dinheiro e falsidade ideológica. Além do Expresso, outros órgãos de comunicação social noticiaram como o Público, o Jornal de Notícias e o Correio da Manhã. Essas acusações já foram tentadas em 2009, sem sucesso, como se pode ler no iOnline e já remontam a 1992 altura em que Edir Macedo foi acusado de charlatanismo e esteve 15 dias na prisão. A partir daí, delitos de estelionato, lesão à crendice popular, sonegação fiscal, importação fraudulenta, uma imensidão de crimes (alguns com denominação brasileira), divulgados em diversos sítios pela blogosfera que só ainda não resultaram em condenações porque vão fintando a justiça num país que é dos mais corruptos do mundo.
Recorde-se que Waldir Abrão, um ex-director da IURD que em 2009 denunciou estes casos, morreu em Novembro desse ano, seis dias depois de ter afirmado num documento registado em cartório que apenas dez por cento de todo o dinheiro arrecadado pela IURD é que era declarado e ia efectivamente para obras religiosas. A morte deste homem não está completamente esclarecida e está a ser investigada.
A história da IURD envolve quantias astronómicas de dinheiro, muitos fiéis e seguidores e uma moldura penal que, não sendo um “quadro de encher a parede”, pelo tipo de “tinta usada e técnica”, demonstra uma evidente “obra” organizada. E por ser uma história que dava, pelo menos, um documentário de 60 minutos, por ter uma dimensão considerável em termos financeiros e criminais, temos a tendência para ignorar e considerar sem importância casos que, para além de se passarem cá no pequeno Portugal, envolvem quantias bem menores e pessoas quase anónimas ou sem interesse. Não estamos a falar de episódios como o que se passou no Algarve em que um homem abalroou um templo com uma retroescavadora - uma espécie de "manifestação espiritual", fim de devaneio com consciência filantrópica (?) - envolveu-se com a IURD ao ponto de se desfazer dos próprios bens para realizar dinheiro e entregá-lo à igreja em troca da promessa de retorno em triplo - quase vendeu a casa de família. E o (?) = altruísta, onde entra aqui? O homem disse: «Não fiz aquilo para me vingar mas para chamar a atenção doutras pessoas a não se deixarem levar/enganar». Nós estamos a falar, sim, de casos já em tribunal, com pessoas acusadas e condenadas. Crimes de burla, crimes fiscais, administração danosa, tráfico e demais delitos associados.
Sabemos que existe um certo “bloqueio” por parte da população no interesse por estes casos. Pelo facto de ser maioritariamente católica apostólica romana e quando se aborda o confronto e discussão vem ao de cima velhas questões como o enorme património da Igreja Católica, a liberdade religiosa, os recentes casos de pedofilia, enfim, telhados de vidro… – questões complicadas. No entanto, todos os cidadãos devem estar atentos (ateus incluídos). A criminalidade usa as mais diversas formas, ambientes e vulnerabilidades para a concretização dos seus actos.
Senão, vejamos o caso de Diamantino Lemos, ex-pastor da Igreja Evangélica Metodista, que ao serviço da Igreja Lusitana Católica Apostólica Evangélica foi condenado a 8 anos de prisão. Respondeu por cerca de 200 crimes relacionados com a utilização indevida, entre 1980 e 2001, de dinheiros públicos e património da Fundação CESDA (Centro Social do Distrito de Aveiro). Como ele, foram também condenados o filho e a mãe. A esposa ficou com a pena suspensa. A instituição lesada ainda recupera de uma falência há 7 anos e um passivo de 2,8 milhões de euros. A actividade criminosa por parte destas organizações religiosas pode chegar ao mais improvável, como é o caso de Leonel Ferreira, pastor evangélico da Igreja Karisma em Vila Nova de Gaia, condenado a quatro anos e 10 meses de prisão (pena que foi suspensa) por detenção de arma e participação económica em negócio, compra de urânio 235 na Roménia! em articulação com outros três indivíduos, entretanto presos, julgados e condenados em França. Lesou a instituição privada de solidariedade social Associação Samaritanos - Missão de Caridade  e provocou um elevado prejuízo à mesma. O caso do Cohen Pereira (Megafinance), o tal que deu uma entrevista à SIC de 4 minutos, encontra-se agora em prisão preventiva, também é sacerdote com ligações a diversas igrejas evangélicas. Tânia Alegria, burlada por este senhor, escreveu no mural facebook de “Burlão José Pedro Pereira Xavier”, de sua autoria, o seguinte: «Ele há um ano atrás tinha como parceiros, que eu tenha tido conhecimento nos meus contactos, a D. Suzete Salsinha (foi-me apresentada como gestora da Fundação Opus Damasco, que obviamente não existe), o "Bispo" José de Oliveira Ventura e o Pastor Vitor Alpalhão. Este pastor nunca conheci, mas o Pedro Pereira mandou-me fazer um depósito de doação para a dita fundação, que afinal foi na conta pessoal deste senhor. A igreja que eles representavam era a Igreja Cristã Pentecostal Evangélica na Venda Nova - Amadora (descobri no site de Vitor Alpalhão) e onde davam missas, por isso caso ainda exista e conheçam a dita igreja é um alvo a evitar». 
Existem mais casos que envolvem pastores evangélicos, crimes relacionados essencialmente com dinheiro. No entanto, a proliferação e instalação confortável destas organizações, seitas, empresas (o que lhes quiserem chamar) permite-lhes abusar não só dos bens materiais dos seus seguidores, crentes, “dizimados”, mas também da sua dignidade humana. O pastor Celso Miranda da Igreja Assembleia de Deus em Odivelas está ligado a um caso de violação de um rapaz de 13 anos – não foi acusado – meteu-se num avião e fugiu para o Brasil. De carro até Madrid e embarque com destino a... safou-se, pelos vistos.
Estas igrejas que aqui e ali têm uma porta aberta e uma mão amiga para ajudar e... receber, dizem-se instituições ou ligadas a uma e que recebem donativos com o argumento de que ajudam alguém carenciado devem ser investigadas, todas sem excepção. Existem muitas por aí que nada fazem, envergam uma fachada de bem feitores e não fazem mais que entreter crentes e mantê-los disponíveis para lhes irem sacando algum. Quantos mais melhor, 10 euros por mês a cada um dá para sustentar uma família que até pode ser numerosa. Existem pastores, casal e filhos, a viver inteira e exclusivamente do que uma igreja dá - "factura"! E quando pensamos que é impossível viver assim, vem à ideia os casos de que atrás falámos - burla, urânio, crime. O dinheiro tem que aparecer de algum lado.
A eficácia da caridade destas organizações parecia estar a funcionar nestes últimos anos. Eram imensas a aparecer através dos mais variados métodos de peditório. Agora, nos tempos de crise que passamos, desapareceram. Vamos à procura daquela que nos lembramos, nem há muito tempo, de lhes ter oferecido dinheiro ou comida ou roupa e, qual é o nosso espanto? Pura e simplesmente não existem. Umas vão estando  no seu sítio ou alguém responde por elas, mas "derivado à crise" deixaram de poder ajudar porque as pessoas deixaram de contribuir - dizem. É um facto, existem debilidades na organização das entidades que prestam ajuda como se pode confirmar nesta  reportagem TVI "SOS Emergência Social" de 21-11-2011 onde se pode dar conta desta realidade. Mas não estamos a falar das que, apesar da crise, lá vão superando dificuldades e sobrevivendo na luta por assegurar a sobrevivência de outros. Estamos a referir e constatar que este último Natal, época em que é suposto ver estas organizações no terreno, muitos carenciados ficaram à espera e ninguém apareceu.

2 comentários:

  1. Eu sou de cimbra e fui vitima da IURD.
    Fiquei sem um mercedes e ainda me puseram 2 processos por difamação

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  2. Lamentamos o que lhe aconteceu. Mas poderia explicar como ficou sem o seu bem?

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